Uma breve história do Braille
- Apoena Kûara
- 6 de set. de 2024
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A escrita Braille é um sistema de leitura e escrita tátil que permite que pessoas com deficiência visual possam acessar informações de forma independente. Sua criação começa no início do século XIX, quando Louis Braille, um jovem francês cego, desenvolveu o sistema baseado em um tipo de comunicação noturna entre soldados.
O sistema Braille utiliza uma combinação de seis pontos em uma célula, permitindo a formação de letras, números e símbolos.
Cada letra do alfabeto é representada por uma configuração única de pontos, o que possibilita a leitura por meio do toque. Apesar de resistências iniciais, especialmente entre professores mais conservadores, o sistema Braille foi oficializado em 1843 no Instituto onde Louis estudava, quando o novo diretor reconheceu sua eficácia.
Após sua oficialização, o sistema começou a se disseminar pela Europa.
A Chegada do Braille ao Brasil
José Álvares de Azevedo, um jovem cego brasileiro, estudou no Instituto Real dos Jovens Cegos de Paris, onde aprendeu o sistema Braille. Ao voltar ao Brasil, ele ensinou Braille e conquistou o apoio do Imperador D. Pedro II para fundar uma escola para cegos. Em 1854, foi inaugurado o Imperial Instituto dos Meninos Cegos, hoje Instituto Benjamin Constant. José faleceu aos 20 anos, antes da inauguração, e sua data de nascimento, 8 de abril, é celebrada como o Dia Nacional do Braille no Brasil.
No entanto, a aceitação do Braille não foi imediata. Durante as primeiras décadas, houve resistência por parte de alguns educadores que preferiam métodos tradicionais de ensino. A luta pela inclusão e pela educação de qualidade para pessoas com deficiência visual continuou ao longo do século XX, com a criação de novas instituições e a formação de professores especializados.
Com o passar das décadas, o Braille passou por diversas evoluções: Na década de 1940, o sistema começou a ser amplamente reconhecido e utilizado em escolas e bibliotecas. A criação de livros e materiais didáticos em Braille se tornou uma prioridade, e várias editoras começaram a produzir obras literárias acessíveis.
Na década de 1980, o movimento pelos direitos das pessoas com deficiência ganhou força, e a inclusão social passou a ser uma pauta importante. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, promulgada em 1996, estabeleceu a obrigatoriedade da educação inclusiva, o que levou a um aumento na demanda por materiais em Braille nas escolas.
Nos anos 2000, a tecnologia começou a desempenhar um papel crucial na evolução do Braille. A introdução de dispositivos eletrônicos, como impressoras Braille e displays táteis, facilitou o acesso à informação. Além disso, a digitalização de livros e a criação de aplicativos voltados para a leitura em Braille ampliaram as possibilidades de aprendizado e entretenimento para pessoas com deficiência visual.
Atualmente, o uso do Braille no Brasil é regulamentado por leis que preveem a acessibilidade em diversos setores, incluindo educação, transporte e comunicação. O sistema é utilizado em escolas, bibliotecas, sinalizações públicas e em materiais informativos.
Principais desafios
Embora o sistema Braille tenha avançado significativamente no Brasil, ainda existem diversos desafios que dificultam a plena inclusão de pessoas com deficiência visual. Esses desafios abrangem desde a falta de recursos financeiros até a escassez de profissionais capacitados.
A seguir, exploramos alguns dos principais obstáculos enfrentados.
1. Custo das Impressoras Braille
Um dos principais desafios para a produção de materiais em Braille é o alto custo das impressoras Braille. Esses dispositivos, essenciais para a impressão de livros, documentos e materiais didáticos, podem custar entre R$ 10.000 e R$ 50.000, dependendo do modelo e das funcionalidades. Esse investimento é inviável para muitas instituições, especialmente escolas públicas e pequenas editoras, que enfrentam orçamentos limitados.
Além disso, a manutenção e o fornecimento de insumos para essas impressoras também representam um custo significativo. A falta de recursos financeiros pode levar à escassez de materiais acessíveis, limitando as oportunidades de aprendizado e inclusão para pessoas com deficiência visual.
2. Serviços de Audiodescrição
A audiodescrição é uma ferramenta importante que permite que pessoas com deficiência visual compreendam melhor eventos, filmes, exposições e outros conteúdos visuais. No entanto, a oferta de serviços de audiodescrição no Brasil ainda é limitada. Muitas empresas e instituições não têm conhecimento sobre a importância desse serviço ou não possuem orçamento para contratá-lo.
Os custos para a contratação de profissionais qualificados em audiodescrição podem variar, mas geralmente incluem taxas por hora de trabalho e despesas relacionadas à produção de materiais audiodescritos. Isso pode ser um obstáculo para eventos culturais, educacionais e corporativos que desejam ser inclusivos, mas não têm recursos suficientes.
3. Falta de Materiais Acessíveis
A produção de materiais em Braille, como livros, apostilas e sinalizações, ainda é insuficiente em muitas regiões do Brasil. Embora algumas editoras tenham se dedicado a criar conteúdos acessíveis, a oferta ainda é limitada, especialmente em áreas fora dos grandes centros urbanos. Isso resulta em uma falta de opções para pessoas com deficiência visual, que muitas vezes não têm acesso a livros e materiais didáticos que atendam às suas necessidades.
4. Capacitação de Profissionais
A formação de professores e profissionais capacitados para ensinar e utilizar o Braille é outro desafio significativo. Muitas instituições de ensino não têm acesso a formação especializada, o que resulta em uma escassez de educadores que possam ensinar o sistema de forma eficaz. Isso limita as oportunidades de aprendizado para alunos com deficiência visual e pode levar à exclusão no ambiente escolar.
5. Conscientização e Inclusão
A falta de conscientização sobre a importância da acessibilidade e da inclusão de pessoas com deficiência visual também ainda é um obstáculo. Muitas empresas e instituições não reconhecem a necessidade de adaptar seus materiais e serviços para torná-los acessíveis. Isso pode ser resultado de preconceitos, falta de informação ou simplesmente da ausência de uma cultura inclusiva.
6. Legislação e Implementação
Embora existam leis que garantem a acessibilidade e a inclusão de pessoas com deficiência, a implementação dessas normas muitas vezes é falha. Muitas empresas e instituições não cumprem as exigências legais, seja por falta de fiscalização ou por desconhecimento das obrigações. Isso resulta em um ambiente onde a acessibilidade não é uma prioridade, dificultando ainda mais a inclusão de pessoas com deficiência visual.
Conclusão
A história do Braille é uma jornada inspiradora que mostra como a tecnologia e a determinação podem transformar a vida de pessoas com deficiência visual. Desde sua criação por Louis Braille até sua evolução no Brasil, onde se tornou um símbolo de inclusão e luta por direitos, o sistema ainda enfrenta desafios significativos.
É fundamental que continuemos a promover a conscientização, ampliar o acesso a materiais em Braille e investir na capacitação de profissionais, garantindo que todos tenham a chance de ler e aprender de forma independente.









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