Você sabe o que tem no seu sabonete?
- Apoena Kûara
- 25 de jul.
- 4 min de leitura
O sabonete é um item de uso diário, tão presente na nossa rotina que muitas vezes passa despercebido em nosso padrão de qualidade pessoal. A escolha geralmente se dá pelo aroma, pela embalagem ou pelo preço – mas raramente pelas substâncias que compõem sua fórmula. No entanto, entender o que há por trás de um sabonete industrializado é essencial para quem se preocupa com a saúde da pele, o meio ambiente e o consumo consciente.

A fórmula por trás do preço
Sabonetes industriais são, em geral, produzidos em grande escala, com foco em redução de custos e aumento da durabilidade nas prateleiras. Para isso, a maioria das marcas utiliza uma base saponificada padrão, que nada mais é do que uma mistura de gordura (normalmente de origem animal) com soda cáustica, já pronta para receber aromas, corantes e conservantes.
É o que os fabricantes chamam de "base glicerinada", mas que pouco tem a ver com a glicerina vegetal pura. É raro encontrar glicerina nos sabonetes industriais — e quando presente, muitas vezes é sintética ou retirada do processo de saponificação para ser vendida separadamente como subproduto. Isso torna os sabonetes mais secos e menos benéficos à integridade da barreira cutânea.
Para nos aprofundarmos no tema, os nomes dos ingredientes a seguir serão apresentados em inglês para facilitar a busca do consumidor e ajudar a contornar a prática comum da indústria de usar termos técnicos ou estrangeiros que dificultam a compreensão dos rótulos. Esse ponto será retomado mais adiante no texto.

Esses sabonetes também podem conter derivados de petróleo, como o óleo de silicone (dimethicone ou cyclopentasiloxane), que é utilizado para criar aquela sensação de maciez e brilho, além de facilitar o enxágue. No entanto, o silicone não é absorvido pela pele, o que o torna um dos principais poluentes persistentes da água e do solo ao ser levado pelos ralos. Além disso, o uso contínuo pode gerar acúmulo na pele, interferindo na transpiração natural e na renovação celular.
Outros ingredientes comuns são os tensoativos agressivos, como o lauril sulfato de sódio (Sodium Lauryl Sulfate - SLS), que proporcionam grande quantidade de espuma, mas são altamente irritantes para peles sensíveis. Há também conservantes sintéticos como os parabenos, e fragrâncias artificiais que podem desencadear alergias e dermatites.
Até mesmo produções artesanais, que costumam conter menos ingredientes tóxicos, comumente utilizam extratos glicólicos. Esse tipo de extrato utiliza solventes como o propilenoglicol (ingrediente derivado do petróleo), o etanol ou outros álcoois, que são amplamente usados para extrair princípios ativos das plantas devido à sua eficácia na solubilização. O problema desse ingrediente é que esses solventes podem causar irritação, ressecamento e sensibilização em peles delicadas, além de apresentarem menor compatibilidade com formulações veganas e naturais, devido à presença de álcool e solventes sintéticos.
Um olhar consciente sobre a pele e o meio ambiente
Diante desse cenário, cresce a importância de escolhas mais conscientes e cuidadosas com o que aplicamos no corpo todos os dias. Nesse contexto, marcas artesanais e independentes que investem em ingredientes naturais, vegetais e acessíveis assumem um papel fundamental — não como tendência, mas como proposta ética e sensorial.

A Apoena Kûara, por exemplo, desenvolve sabonetes com formulações que priorizam ingredientes funcionais e de origem vegetal. A base de glicerina utilizada é vegetal e mantém propriedades umectantes naturais que ajudam a reter a hidratação da pele.
Além disso, os sabonetes da marca utilizam óleo de maracujá prensado a frio — um ingrediente rico em ácidos graxos essenciais, como o linoleico, e naturalmente calmante para peles sensíveis ou reativas. Esse óleo vegetal tem ação anti-inflamatória leve e é rapidamente absorvido, sem deixar resíduos.
A formulação também conta com extratos glicerinados de plantas, e não glicólicos. os extratos glicerinados se destacam como uma alternativa mais suave e hidratante, já que a glicerina vegetal atua como umectante e veículo natural, preservando as propriedades das plantas sem agredir a pele ou comprometer a sustentabilidade do produto. Essa escolha traz benefícios tanto para a experiência do usuário quanto para a integridade do produto, alinhando-se a práticas mais conscientes de fabricação.
Outro diferencial importante é o uso de tensoativos suaves, como o lauril éter sulfato de sódio derivado do coco ou do milho, que, embora também façam espuma, são consideravelmente menos irritantes do que os lauril sulfatos convencionais. Aliado a isso, todas as fragrâncias utilizadas são cosméticas e de origem vegana, livres de ingredientes de origem animal e sem testes em animais.
Observação: os sabonetes líquidos, por sua vez, tem em sua formulação uma base perolada vegetal, que proporciona uma textura suave e uma limpeza delicada, sem os detergentes agressivos presentes nas bases líquidas industriais. Para garantir a conservação segura e eficaz, é utilizado o Geogard — um conservante natural composto principalmente por ácido dehidroacético e álcool benzílico.
O ácido dehidroacético, frequentemente derivado de fontes naturais como o rabanete, possui ação antimicrobiana de amplo espectro, combatendo bactérias, fungos e leveduras sem agredir a pele ou o meio ambiente. Além disso, é biodegradável e apresenta baixa toxicidade, alinhando-se à proposta de ingredientes limpos, veganos e sustentáveis.
Ao priorizar ingredientes biodegradáveis, com baixa toxicidade e de origem vegetal, essas escolhas não apenas beneficiam a pele de quem usa, mas reduzem significativamente o impacto ambiental do produto ao longo de seu ciclo de vida.
Acessibilidade também é saber o que se está consumindo. Ter clareza sobre os ingredientes que compõem o que usamos diariamente é um direito de todos. Quando a rotulagem é confusa e os nomes técnicos escondem substâncias prejudiciais ou quando a informação simplesmente não chega a todos, o acesso pleno à escolha consciente é comprometido.
Por isso, promover uma comunicação acessível, clara e transparente sobre a formulação dos produtos é mais do que uma prática ética: é uma forma de garantir autonomia às pessoas em suas decisões de consumo, respeitando diferentes corpos, necessidades e valores.





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